A polêmica do dia no mundo da comunicação é a nova campanha da Volkswagen!

Se você não sabe do que estou falando, explico abaixo (e depois vão meus comentários).

Para comemorar 70 anos no Brasil a montadora lançou um vídeo no qual Elis Regina e Maria Rita, cada qual dirigindo um carro de sua época, cantando juntos “Como nossos pais”. Esse reencontro de gerações foi possível com ferramentas de inteligência artificial e deepfake. E, para além da tecnologia empregada, o filme realmente ficou lindo.

O problema é que a canção escolhida, que foi composta por Belchior, mas fez sucesso na voz de Elis Regina, no fundo trata-se de uma crítica à ditadura militar e ao capitalismo. Quem presta atenção na letra, encontra um sentido muito mais sombrio do que aquele que a campanha sugere.

Nesse sentido, um leitor me questionou por inbox “Bruno, não é possível que a Volkswagen e a agência não tenham percebido isso!“.

Eu não estou envolvido e, por isso, não posso responder por ninguém. Mas acho difícil que a marca e a agência não soubessem. Acho difícil que ninguém tenha percebido.

Então, como explicar isso?

É bem fácil. Como eu sempre digo, comunicação é sobre percepção, não sobre fatos. O fato é que a música foi composta para passar uma certa mensagem. A percepção, quase 50 anos depois, provavelmente mudou.

Em um contexto na qual a ditadura brasileira felizmente acabou (embora ainda tenha defensores), e que tanto Belchior quanto Elis Regina não têm mais o destaque de antes, a Volkswagen e os publicitários envolvidos devem ter feito a aposta de que a letra da música poderia ser ressignificada pelo público, sobretudo os mais jovens que desconheciam aquele contexto.

A própria aparição da Maria Rita, filha da Elis Regina, demonstra que houve anuência da família, e assim a marca pelo menos se resguarda por este lado.

Eu estarei completamente errado se a polêmica escalar demais e a Volkswagen se vir obrigada a tirar o filme do ar. Mas, ainda que a polêmica pudesse ser prevista, a aposta deles parece ter sido na direção contrária. Uma minoria vai reclamar, e uma maioria vai ser embriagada por nostalgia e uma linda história de mãe e filha.

Fazer comunicação que marca as pessoas, as vezes, requer correr riscos. Vamos ver onde essa aposta vai dar...