A reunião terminou às 19:30. Todos se levantaram e se cumprimentaram com um “bom descanso”, “amanhã começa tudo de novo”.

Eu suspirei e dei uma risada. Me olharam sem entender. Eu era única diretorA presente e, por instantes, me senti constrangida pela situação; na obrigação de justificar minha “postura”.

“Bom descanso pra vocês, né? Eu vou servir o jantar, arrumar a bagunça, deixar o material do dia seguinte arrumado, lutar pelo banho e pra colocar minha galera pra dormir”.

O sorriso veio amarelo. Eles não sabiam do que eu estava falando.

Anos depois, num outro grupo onde eu passara a ser a segunda mulher presente, questionei o fato das reuniões do comitê serem à noite e aos finais de semana. Eu tinha muitos outros afazeres. Acataram meu pleito, mas talvez também nunca entendam.

Esse é um trabalho invisível. Que “não conta” ou, pelo menos, não remunera. Eu chego exasuta às segundas e, mesmo tendo um marido que divide boa parte do rolê comigo, a demanda maior sempre é da mulher. É estrutural. Eu fui criada assim. Ele também.

Fico pensando o que vai aparecer na redação do Enem desse ano. Será que esses adolescentes têm noção do que está por vir?

Muitas meninas ainda são ensinadas a colocar a mesa e a ajudar nas tarefas do lar, mas ainda são poucos os meninos que recebem essa educação.

Talvez, num futuro nem tão distante, o fato desse tema figurar na redação de um dos momentos mais marcantes da vida de um estudante, amplie a consciência sobre o peso que carregamos. O desafio é mudar esse paradigma tão arraigado em nossa sociedade.

Podemos alcançar os mesmos resultados, mas temos que nos provar antes de começar a fazer. Talvez ganhemos mais que alguns homens, mas temos que trabalhar bem mais para isso. Passamos a ocupar os mesmos espaços, mas ainda chegamos descabeladas.

No futuro, o que nos sobrará será a criatividade, o cuidado e seremos recompensados pelo valor da nossa auto expressão.

Eu espero que esse trabalho se torne visível, que ele seja reconhecido e recompensado.
E você?